segunda-feira, 2 de julho de 2012

A CASA


Era uma vez uma casa perto da foz de um rio.
Não era uma casa muito grande, nem muito vistosa, era uma casa entre várias casas à beira-rio. Caiada de branco e com belas janelas por onde espreitava o sol pela manhã, cheirava a sal e aos eucaliptos da mata.
Nela vivia um jovem casal. Ela era pequenina, com os olhos azuis esverdeados e o cabelo castanho claro de quem foi em tempos loira. Gostava de flores, tinha rosas creme, lírios, vaidosos narcisos amarelos e delicados brincos de princesa fúcsia. Cuidava também das ervas aromáticas, o alecrim doirado, a cheirosa alfazema e a salsa, imprescindível a um bom cozinhado. Já as árvores de fruto cabiam-lhe a ele. Era alto e forte pelo que não lhe era difícil apanhar os frutos, ou espetar as estacas das novas árvores. Ele mesmo tinha olhar de árvore, nuns serenos tons de castanho e verde.
Talvez tenha sido essa fauna original que atraiu a gata, talvez apenas a simpatia dos seus cuidadores. O que é certo é que a casa ganhou mais um morador.
A gata andava como quem dança, passos leves e esvoaçantes, silenciosos. Não se dava por ela senão quando se queria mostrar. Castanha, malhada, camuflava-se na “selva” da qual era rainha.
Atrás da realeza surgiram vários pretendentes, de todas as cores e feitios: do vira-lata tigrado de laranja e amarelo ao branco puro do persa da vizinha, passando pelo preto gigantesco, que tal como uma pantera, adorava aparecer durante a noite, com os olhos amarelos a brilhar na escuridão.
Embora a todos desse treta, a verdade é que a gata preferia ouvir os vinis de música clássica no conforto da casa às miadelas constantes dos seus apaixonados. E a assim, a gata da rua passou a ser a gata da casa.




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