Era
uma vez uma casa perto da foz de um rio.
Não
era uma casa muito grande, nem muito vistosa, era uma casa entre várias casas à
beira-rio. Caiada de branco e com belas janelas por onde espreitava o sol pela
manhã, cheirava a sal e aos eucaliptos da mata.
Nela
vivia um jovem casal. Ela era pequenina, com os olhos azuis esverdeados e o
cabelo castanho claro de quem foi em tempos loira. Gostava de flores, tinha
rosas creme, lírios, vaidosos narcisos amarelos e delicados brincos de princesa
fúcsia. Cuidava também das ervas aromáticas, o alecrim doirado, a cheirosa
alfazema e a salsa, imprescindível a um bom cozinhado. Já as árvores de fruto
cabiam-lhe a ele. Era alto e forte pelo que não lhe era difícil apanhar os
frutos, ou espetar as estacas das novas árvores. Ele mesmo tinha olhar de
árvore, nuns serenos tons de castanho e verde.
Talvez
tenha sido essa fauna original que atraiu a gata, talvez apenas a simpatia dos
seus cuidadores. O que é certo é que a casa ganhou mais um morador.
A
gata andava como quem dança, passos leves e esvoaçantes, silenciosos. Não se
dava por ela senão quando se queria mostrar. Castanha, malhada, camuflava-se na
“selva” da qual era rainha.
Atrás
da realeza surgiram vários pretendentes, de todas as cores e feitios: do
vira-lata tigrado de laranja e amarelo ao branco puro do persa da vizinha, passando
pelo preto gigantesco, que tal como uma pantera, adorava aparecer durante a
noite, com os olhos amarelos a brilhar na escuridão.
Embora
a todos desse treta, a verdade é que a gata preferia ouvir os vinis de música clássica
no conforto da casa às miadelas constantes dos seus apaixonados. E a assim, a
gata da rua passou a ser a gata da casa.
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